Capítulo 01
“Fique em Erel até que o círculo social se acalme a seu respeito. Não há ninguém por lá. É o melhor lugar para passar despercebida e evitar qualquer problema.”
Quando os rumores se espalharam por todo o reino de que eu havia tentado assassinar Catherine, o duque de Oberon me enviou para Erel, uma das propriedades da família.
Foi uma ordem bastante repentina, mas não me surpreendeu nem um pouco.
Na obra original, o duque tomou exatamente a mesma decisão enviou Everia para Erel.
“Está acontecendo um pouco mais rápido do que na história original.”
Originalmente, Everia não admitia sua culpa e se agarrava desesperadamente até o fim, mas acabou sendo expulsa da sociedade após o príncipe anunciar publicamente o rompimento do noivado.
Somente depois desse escândalo ela partia para Erel.
Mas, desta vez, fui eu quem suspendeu o noivado e abandonei a sociedade por vontade própria.
Erel era uma pequena propriedade localizada no extremo norte do reino um lugar frio e afastado, ideal para que uma nobre de saúde frágil passasse o tempo em reclusão.
Se fosse a verdadeira Everia, sentiria vergonha e humilhação só de pisar ali.
Mas, por infelicidade do duque e sorte minha, a “nova” Everia estava longe de ser uma dama delicada.
O norte do país? Para mim, era o cenário perfeito para uma vida tranquila e preguiçosa.
Além disso, não haveria espiões de Catherine me vigiando. Não parecia um castigo era quase uma recompensa.
Pelo menos foi o que pensei.
“E-está… frio!”
Erel era gélida.
Terrivelmente fria.
Mais fria do que eu jamais poderia imaginar. Mesmo sentada dentro do quarto, o ar parecia cortar minha pele, e eu tremia sem parar.
Apesar de estar dentro de casa, usava um casaco espesso e ainda me enrolava em uma manta.
Nada disso adiantava contra aquele frio absurdo.
A essa altura, eu já duvidava que a morte de Everia tivesse sido suicídio.
Não nem era dúvida.
Ela certamente teria congelado até a morte neste lugar.
“Ninguém… ninguém conseguiria viver assim… é frio demais…”
Incrédula, virei-me para Emma, a criada que estava ao meu lado.
Minhas mandíbulas tremiam, e eu mal conseguia articular as palavras. A serva, vestida apenas com um uniforme simples, parecia absurdamente calma diante daquele clima mortal.
“Sentirá-se melhor se tomar um chá quente, minha senhora.”
“Beber uma xícara de chá não… não vai ajudar ninguém, Emma. Tem certeza de que não está com frio?”
Tremendo, levei a xícara aos lábios. O calor do chá me deu algum alívio passageiro, mas real.
Mesmo assim, o frio persistia, penetrando ossos e pensamentos. Eu tinha certeza de que logo pegaria um resfriado.
“Também sinto frio”, admitiu Emma. “Mas nasci e cresci em Erel. Todos os criados daqui já estão acostumados. À noite é insuportável, mas, durante o dia, ainda é… quente.”
“Quente? Se isso é quente, então vou… morrer congelada antes que chegue a noite.”
Morrer congelada antes mesmo de ter começado a viver. Ridículo.
“Preciso fazer alguma coisa.”
Olhei ao redor, desesperada. Havia uma lareira no canto do quarto. Uma centelha de esperança.
“Por que não estamos usando a lareira? Acenda-a agora mesmo.”
“Perdão, minha senhora. Não há lenha suficiente para manter o fogo aceso. Usamos o que resta na cozinha apenas para ferver água. É uma sorte podermos preparar chá quente.”
“O quê?”
Aquilo era absurdo.
Mesmo em uma região rural, uma propriedade pertencente a um duque deveria ter suprimentos básicos.
Emma abaixou a cabeça, constrangida ao notar minha expressão indignada.
“A madeira que cresce em Erel vem das árvores de ferro-negro, resistentes ao frio. Mas são tão duras que mal pegam fogo. Por isso, não servem para queima.”
“Então, por que não compramos lenha de outra propriedade?”
“O fornecedor que atendia nossa região era Ocal. Mantínhamos relações comerciais há mais de cem anos, mas, recentemente, eles encerraram o contrato de forma abrupta. Desde então, todas as propriedades do território estão em apuros.”
Emma continuou, claramente envergonhada:
“Não é fácil conseguir novos contratos. O mordomo está se esforçando para encontrar outro fornecedor, mas levará algum tempo.”
Negócios baseavam-se em confiança.
Mas romper, de repente, um acordo que durava mais de um século?
Devia haver uma razão por trás disso.
E, neste mundo, onde a hierarquia era mais poderosa que a lógica do mercado, romper um contrato com um duque não era algo simples.
“Erel é propriedade do duque. Nenhuma loja ousaria encerrar um contrato unilateralmente. Deve haver algo por trás.”
Emma hesitou, mas, diante do meu olhar insistente, acabou confessando:
“O fornecedor Ocal pertence à família do conde de Meliol. Então…”
Assim que ouvi o nome, uma imagem me veio à mente o príncipe Ridon, um dos peões de Catherine.
A família materna dele era justamente Meliol.
Embora seu prestígio não se comparasse ao de Oberon, ainda era uma casa nobre ligada à realeza.
Seria difícil para o duque retaliar alguém com conexões tão altas.
“Então é isso…”
“Eles encerraram o contrato há cerca de uma semana”, disse Emma.
“Claro. O príncipe deve ter apoiado essa decisão.”
Era óbvio: Ridon cortou o fornecimento apenas para prejudicar Everia a mulher que tentara matar sua preciosa Catherine.
Exatamente o tipo de atitude que Ridon Zerette teria.
No romance original, ele era o primeiro príncipe, mas o título de herdeiro passara ao irmão mais novo, Cassian Zerette.
Um caso incomum neste mundo, onde o primogênito quase sempre herdava o trono. Mas fazia sentido, considerando as circunstâncias.
A mãe de Ridon morrera ao dar à luz, e a concubina que assumira o posto de rainha deu à luz Cassian.
Determinada a tornar seu filho o próximo rei, a nova rainha garantiu o noivado de Cassian com Everia unindo a família real ao poder do duque de Oberon.
Agora, pense comigo:
O primogênito perde a mãe ainda criança, tem um apoio familiar frágil e perde sua única vantagem ao trono.
A bandeira da morte está tremulando bem diante dele.
Mas, feliz ou infelizmente, Ridon era astuto.
Reconheceu o perigo em que estava e começou a agir.
Por fora, parecia gentil e inofensivo. Por dentro, era veneno e cálculo puro.
Um verdadeiro “vilão de sorriso doce”.
Nessas circunstâncias, Ridon Zerette e Everia a noiva do príncipe herdeiro estavam fadados a se tornar inimigos.
Afinal, Everia humilhava Catherine, a mulher por quem Ridon se encantara.
Era natural que ele quisesse cortar todos os laços.
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